Em maio, o botijão de gás mais caro do Brasil foi encontrado pela ANP na cidade de Caçador (SC), a R$ 160
Imagem: Dirceu Portugal/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Anaís Motta
Do UOL, em São Paulo
02/06/2022 04h00
Quem ganhou um salário mínimo (R$ 1.212) em maio teve que comprometer até 13,2% de sua renda mensal para comprar um botijão de gás de 13 kg, cujo preço máximo está em R$ 160 desde março. Esse percentual é o maior patamar atingido em 16 anos, desde 2006, quando o valor mais alto do botijão correspondia a 15% do salário mínimo da época (R$ 300).
Para fazer esse levantamento, o UOL usou como base os dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que faz pesquisas semanais de preços dos combustíveis desde 2001, e do histórico de valores do salário mínimo mantido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
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Em maio, o botijão de gás mais caro do Brasil foi encontrado pela ANP em Caçador (SC), a R$ 160. O preço equivale a 13,2% do salário mínimo atual, que está em R$ 1.212.
É o maior percentual alcançado desde os meses de janeiro, fevereiro e março de 2006, quando o botijão mais caro custava R$ 45 nas cidades de Alta Floresta (MT) e Tarauaca (AC), ainda de acordo com a ANP.
Ganhando um salário mínimo da época (R$ 300), o consumidor gastava até 15% de sua renda mensal para comprar um botijão de gás.
Promessa não cumprida
Em 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu cortar o preço do gás de cozinha pela metade — uma redução que viria a partir da abertura desse mercado no Brasil. Desde então, porém, o preço do botijão já acumula alta de mais de 60%.
Para especialistas ouvidos há duas semanas pelo UOL, a promessa foi um erro e não levou em consideração o papel social do gás de cozinha, que merecia uma política de preços diferente daquela adotada para outros derivados de petróleo. O governo não comentou o assunto.
Salário mínimo sem aumento real
Somado à alta dos preços do gás de cozinha, há ainda o fato de que o salário mínimo não tem se valorizado como antes.
Até 2019, o salário mínimo era corrigido com base na inflação do ano anterior, medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), e na variação do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes. Essa fórmula tinha o objetivo de garantir que o mínimo tivesse aumento real — ou seja, acima da inflação — todos os anos.
Mas a partir de 2019, primeiro ano de Jair Bolsonaro na Presidência, o cálculo passou a levar em conta somente a inflação, descartando as variações do PIB. Com isso, o salário mínimo não tem aumento real (acima da inflação) há três anos.